DEBORA MUSZKAT

Ponte de Vidro

Construída em 2011 no jardim-ateliê de Debora Muszkat, A Ponte de Vidro é uma instalação que une matéria, memória e metáfora. Inspirada na icônica ponte de Monet em Giverny, a obra não imita — ela transpõe: traz o tema do espelho d’água e das flores flutuantes para um cenário urbano-contemporâneo, onde o lago é substituído por uma piscina, e os reflexos não vêm apenas da água, mas também de fragmentos de vidro e espelhos industriais.

Uma travessia entre o natural, o industrial e o imaginário

A estrutura, feita em metal com a aparência crua de guindastes, estabelece um contraste deliberado com a leveza poética das flores vítreas, que emergem desse novo ambiente híbrido entre natureza e resíduo. É um jardim que está “entre o líquido e o sólido”, onde o vidro revela seus múltiplos estados e sua essência transformadora.

A Ponte de Vidro é também um gesto de crítica e reencantamento. Em um mundo marcado pela produção em série e descarte excessivo, Debora resgata o vidro industrial — garrafas, frascos, recipientes — e os reconduz à arte por meio de processos artesanais, como o corte, o choque térmico e a lapidação intuitiva. O que era lixo ganha presença: uma flor, um vitral, um fragmento de paisagem.

Mais do que um objeto contemplativo, a Ponte de Vidro é um percurso. Convida o espectador a atravessar matéria e símbolo, natureza e fabricação, memória e futuro. O vidro, aqui, atua como espelho e reinvenção — símbolo da indústria e também do sagrado, da repetição e do acaso.

Debora transforma resíduos em ecos visuais: cacos refletindo cacos, reflexos sobre reflexos. Como numa espécie de “máquina imaginária”, os espelhos da ponte nos devolvem imagens infinitas, sempre iguais e sempre outras. São fragmentos de nós mesmos, de um mundo que se vê e se refaz — através do vidro.